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REV. DO INST. ARCH. E GEOG. PERN

NOTAS Á TRADUCÇÃO

 

^ (a) A phrase inicial da carta tupi não offerece difficuldade na sua traducção ; é, pode-se dizer, a phrase corriqueira com que se costuma começar uma carta em toda a parte: « Ao Snr. Capitão Pedro Poty nosso senhor Deus vida bôa dê a ti, » phrase que, com outra disposição mais ao sabor do nosso idioma portuguez, se escreverá: « Ao Snr. Ca-
pitão Pedro Poty Deus Nosso Senhor lhe conceda boa saúde. »

O verbo tomeeng, aqui traduzido por ou conceda é a forma permissiva do verbo ameeng que quer dizer dar, entregar, forma que no tupi se indica pela perfixação aos indices e aos pronomes pessoaes de ta, ti ou simplesmente t. O verbo ameeng no tupi costeiro ou amee no guarani, significa dar, mas, na forma permissiva, em que se escre-
veria tameeng ou taméé, passará a significar consentir que dê. As-
sim, tomeeng, na terceira pessoa do singular, se traduzirá consinta que dê ou queira dar, aqui equivalente a conceda.

O termo ndebe que, no texto copiado, vèm viciosamente escripto, com lettra grande, Endeche, é o pronome da segunda pessoa no dativo, que outros escrevem endebe e se traduz a ti ou te. No tupi é o tra-
tamento usual de um a outro interlocutor que nós brasileiros commum-
mente substituimos pelo pronome da terceira pessoa. Em vez de dizer-
mos Deus TE conceda boa saúde..., dizemos por vicio Deus LHE con-
ceda boa saúde
...

Nesta traducção, seguimos o uso commum entre nós. Johannes Eduards traduzio : « Deus... nos dè uma boa vida. « isto é, deu a ndebe o mesmo significado de peême, segunda pessoa do plural no dativo.

 

^ (b) Este segundo periodo litteralmente traduzido, á feição tupi, quasi que não tem sentido para o portuguez se aos vocabulos traduzidos não se lhes dér a collocação e inter-dependencia que a expressão do pensamento a nosso modo requer. « Esta carta tu vejas antes que eu alegrei-me muito de todos vós saude pela. » A collocação das palavras ao modo portuguez é outra bem diversa: « Antes que tu rejas esta carta, eu muito me allegrei pela saule de todos nós, » phrase esta que ainda se pode substituir pela que se segue, em tudo equivalente: « Ao veres esta carta tenho prazer pela saude de todos nós. » No portuguez communissimo das nossas missivas diriamos ainda: « Ao receber esta, fique V. sciente de que terei muita satisfação pela saúde de todos. »

Na traducção de Johannes Eduards lè-se, vertido do hollandez : « Mesmo antes de terdes visto a minha carta muito me alegrei ao saber da saúde de todos vós. »

 

^ (c) Este terceiro periodo da carta de Diogo Pinheiro Camarão é a ex-
pressão de uma queixa. O missivista manifesta-se sentido porque seu povo e elle proprio não nutrindo inimizade contra os de Pedro Poty. isto é, contra os outros Potyguaras que se tinham alliado aos Hollan-
dezes nas capitanias por estes submettidas, fossem entretanto molesta-
dos por elles, allusão certamente ás atrocidades praticadas pelos indios no Rio Grande do Norte e na Parahyba ao mando de Pedro Poty e do