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REV. DO INST. ARCH. E GEOG. PERN.

famigerado Jacob. Diz então o Camarão, no tupi, aqui termo a termo traduzido: « Emquanto minha gente nem eu indisposto ando contra nós, porque haveis de fazer contra? » Por outras palavras: « Em-
quanto nem minha gente nem eu anda indisposto contra vós porque haveis de tentar contra nós? »

A traducção hollandeza de Johannes Eduards differe um pouco da nossa, pois é feita nestes termos : « Emquanto eu me conservo quieto sem nada tentar contra vós, porque quereis ser contra nós? » O tra-
ductor hollandez tomou a phrase tupi mal escripta «...xeabea-noxe ma-
raninhe guitecobo pee me
...» como se estivesse escripta «...che aba nhõte marãni guitecobo peême...» porque só com esta interpretação é que poderia elle verter a phrase do texto: «...xeabea noxe...», como eu me conservo quieto…« Mas, assim interpretando, o resto da phrase «...maraninha guitecobo pee me...» fica logicamente em contradição, porque essa phrase que é o mesmo que « marãni quiterobo peême....» quer simplesmente dizer, palavra por palavra: «...indisposto ando con-
tra vós.... Assim, pela versão de Johannes Eduards, tomada termo a termo, teriamos: «...eu me conservo quieto, indisposto ando contra vós...» o que de facto importa em contradicção. Entretanto, interpre-
tando a mesma phrase do texto copiado como o fizemos, escrevendo o tupi com a correcção necessaria: «...che mbeá na che maranni guite-
cobo peême...» e dando-lhe a traducção verbum ad verbum «...
minha gente nem eu indisposto ando contra vós...», o pensamento se harmo-
nisa em toda phrase, sem a minima contradicção. Na verdade, o mis-
sivista se queixa de uma injustiça dos seus parentes que ficaram com os Hollandezes e lhes diz: « Emquanto nem minha gente nem eu ando indisposto contra vós porque haveis de tentar contra nós. » O termo mal escripto xeabea, como se vê no texto copiado, é uma forma erro-
nea de che mbeá e quer dizer: minha gente, meu povo, aquelles que me acompanham. O termo noxe, tambem mal copiado, é a expressão na che que se traduz, não eu, ou nem eu. Em Montoya se lê a phrase: che marani guiterobo traduzido por ando enfermiço, isto é, ando in-
disposto
. (Vide Marãne no Diccionario da Lingua Guarani desse au-
tor). O termo peême é o propome da segunda pessoa do plural peê com a preposição aliás posposição me, significando contra nós. E’ bem de notar que o missivista, ao passo que, no inicio da carta, emprega a segunda pessoa do singular no dativo, ndebe, dirigindo-se ao destina-
tario, aqui porem emprega a segunda pessoa do plural, porque é sua intenção referir-se não só ao destinatario com á gente que o acom-
panha.

A phrase final: « mae monhang-aquama recê? » se traduz, termo a termo: « porque fazer haveis de pelo? No portuguez seria phrase equivalente a esta: ….porque haveis de fazer por isso ou, melhor ainda: « porque querereis pelo?

A’ vista do exposto, a traducção livre deste periodo da carta é a seguinte: « Uma vex que nem eu nem minha gente é inimiga vossa, porque haveis de sel-o vós outros? »

 

^ (d) Mae peê ieminotar? Esta phrase tupi está escripta no texto co-
piado sem a necessaria pontuação nem accento. No dito texto. a mesma