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REV. DO INST. ARCH. E GEOG. PERN.

feito e o pensamento aqui traduzido exprime bem um costume da epoca. Não havendo imprensa nesse tempo, nem meio de fazer espa-
lhar rapidamente uma noticia qualquer, usava-se então pegar gente, principalmente mulheres escravas, tapuyas, a quem se communicava o que se queria propagar e depois de instruidas estas soltavam-nas para que levassem ao longe a nova desejada.

A traducção de J. Eduards differe bastante da nossa, pois é feita nestes termos: « Enviei tambem o Capitão Diogo da Costa a fim de pegar alguns homens ou mulheres e lhes falar sobre a nossa vinda, dizendo-lhes que nós iremos e que depois de os haver bem interrogado os mandasse embora. » O sentido do texto é bem diverso. O Capitão Diogo da Costa foi enviado á Parahyba e Rio Grande do Norte para o fim de fazer espalhar a noticia da proxima chegada do Camarão, isto é, do autor da missiva e, para esse fim, devia proceder como de costume na epocha, isto é, colhendo alguns individuos do paiz, homens ou mu-
lheres, e soltando-os depois de lhes communicar o que queria. Era um plano de levante geral que assim se preparava, e que de facto se realisou.

O traductor hollandez parece que se confundio ao verter por « a vossa vinda » o termo tupi oroyust, aliás mal escripto, quando, na ver-
dade, «oroyust» ou melhor «ore yur» significa «nossa vinda», isto é, a do missivista e não a do seu interlocutor.

Tambem não foi feliz na interpretação do texto mal escripto na parte em que se lê: « picig abamo cojpo Cunhā amo Tapeiymo geta pera... » talvez mesmo por causa do estropeamento das palavras, uma vez que não pequeno esforço requer o tentarem do restaural-o, como já acima o fizemos nos seguintes termos ; « pirig abá mocōi pó cunhā amó tapeiy mongetá-pirama... » e cuja traducção passamos a dar ana-
lysada. A expressão « 
picig abá », litteralmente fallando, se traduz pegar homem, mas o sentido do texto pede que se diga pegar gente, mais ao sabôr portuguez. A expressão seguinte mocōi pó quer dizer duas mãos, isto é, dez, pois que os indios contavam pelos dedos e, quando muito. numeravam até cinco, designando pelo nome , que quer dizer mão, o grupo das cinco unidades. e assim exprimiam pteu pó, mocōi pó, mboapi pó, yrundi pó... que se traduzem : uma mão, duas mãos, tres mãos, quatro mãos, equivalentes respectivamente a cinco, dex, quinze, vinte... As palavras cunhā amó tapeiy se traduzem, termo a termo, mulheres algumas tapuyas. O traductor hollandez, parece-me, que deu á palavra amō o significado de parente proximo que real-
mente tem quando substantivo, mas que aqui repugna ao sentido da phrase. A palavra amō é, porém, um adjectivo indefinido, que, no tupi, se pospõe quasi sempre ao substantivo ou pronome a que se refere. Os tupis diziam commummente : aba amō, algum homem, ou alguem ; mbae amō, alguma cousa ; y amō, alguma agua ; ore mocōi amō, um ou algum de nós dous. Portanto, a expressão cunhā amō tapeiy se traduz : ’'algumas mulheres tapuyas. A expressão mongetá-pirama é o verbo mongetá, falar, conversar, communicar, no participio do futuro na forma passiva, significando para serem faladas, para serem ou-
vidas ou instruidas
.

Resulta da analyse feita que a phrase tupi: « picig abá mocōi pó