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REV. DO INST. ARCH. E GEOG. PERN.

constituira o flagello da gente de procedencia portugueza. Em 1645, anno em que foram eseriptas as cartas tupis dos Cama-
rões, Ling, governador da Parahyba, mandara-o vir do sertão com os seus guerreiros selvagens para o auxiliar a conter a re-
bellião imminente e com elle se encerrara na fortaleza do Ca-
bedello, como n’um centro de resistencia. Ao mesmo tempo fazia sair o famigerado Jacob, hollandez sanguinario, á frente de forças regulares, acompanhadas de tapuyas ferozes e de al-
guns potyguaras, para atacar Canhaú cuja população trucida vergonhosamente ; manda atacar Goyanna cujos moradores se salvam como por um milagre, e, fazendo-o atravessar a Pa-
rahyba, trata esta capitania com a fereza de um vandalo. Jacob cae depois sobre o Rio Grande do Norte, põe cerco ao forte do Potengy que consegue fazer render com propostas enganosas de paz, matando no porto de Ymearaçú, no meio de tormentos inauditos, os infelizes prisioneiros cujas mulheres e filhas, por cumulo de crueldade, foram então entregues á sanha e lascivia dos feros sequazes de Antonio Paranpava,. « Nunca a dema-
sia andou tão desenfreada, diz o autor do Castrioto Lusitano, porque nunca se vio mais livre o desaforo com que a lascivia rompeu pelas leis do pejo e da lastima. »

Inauditas eram as atrocidades commettidas naquellas duas capitanias. A peste, flagello talvez menos terrivel, assolava a um tempo as cidades e o campo, e a rebellião, instigada por tanto soffrer, estendia-se por toda a parte.

Foi então que os chefes independentes que já antes haviam mandado o capitão Diogo da Costa, com um troço de gente do Camarão, a persuadir e a attrahir os indios auxiliares do ini-
migo, com offertas de amizade e vantajoso partido se quizessem vir militar debaixo das suas bandeiras, enviaram ainda a João Barbosa Pinto e Diogo Pinheiro Camarão em soccorro da gente perseguida da Parahyba e do Rio Grande do Norte.

Partiram os dous cabos de guerra, atravessando a Para-
hyba onde se engrossaram as suas forças e, pondo-se de novo a caminho em meiados de Outubro de 1645, só conseguiram en-
trar no Rio Grande, nos primeiros dias de Novembro, pelas muitas difficuldades de jornada tão longa, mas infelizmente já tarde para impedirem os grandes crimes a que acima nos re-
ferimos.