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soffrer que fallem de mim com liberdade. Devo-lhe grande obrigaçaõ por me haver inspirado o amor da philosophia, e o dezejo de conformar-me em tudo com os costumes austéros dos verdadeiros philosophos.
7. Devo a Rustico a particular obrigaçaõ de me fazer
sentir a necessidade de cuidar sempre em corrigir os
meos defeitos ; ensinar-me a gostar da poesia sem
paixaõ; a desprezar as subtilezas da dialéctica, e
da rhetorica; a evitar em meos discursos uma eloquencia
affectada, e por conseguinte viciosa; assim como a
ostentaçaõ de saber, de autoridade, ou qualquer outra
casta de affectaçaõ. Exercitou-me em ler com attençaõ;
e escrever cartas em estilo simples. Tambem lhe
devo fazer-me conhecer os Commentarios d’Epicteto ;
ensinar-me a viver sem grande fausto, e a perdoar facil-
mente as injurias e offensas.
8. De Appolonio aprendi a conservar-me livre, e firme
em meos propósitos ; a consultar a razaõ até nas coisas
pequenas; a ser sempre o mesmo nas longas molestias,
nas dores agudas, e nas adversidades de qualquer espe-
cie. Em Appolonio achei o modelo d’um caracter ora
sevéro, ora indulgente conforme as circumstancias; e de
um espirito, que sabendo explicar-se com facilidade, e
elegancia, considerava este bello talento como a menor
de suas vantagens. Ensinou-me emfin como uma alma