Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 17, n. 3, e20210034, 2022
i xuí pesema. || deles se afastando.
Emonã pe rekóreme, || Se assim for o proceder de vocês,
xe rorybeténe. || eu hei de ficar muito feliz.
Opomoingoîebykatupe[1], || [Eu] os farei estar novamente bem,
akûeme pe rekopûera || de outrora [com] a antiga cultura de vocês
rupikatune. || bem de acordo.
Kó xe nhe’enga rupi || Segundo estas minhas palavras
oîkó e’iba’e[2] a’eîpe[3] ne: || estarão os que se acharem aí:
i mokanhemetepyramo nhẽ || como os que serão muito arruinados, com efeito,
sekóûne[4] || estarão.
Mamõ monẽ i xóû || Para longe deveriam ir
xe suí oîegûasema[5]. || de mim para fugir.
T’oîmoang ymẽ. || Que não o finjam
abá || os índios
emonã oîkoba’e. || que assim fizerem.
Kó marana || Esta guerra
akûeme akỹ[6] || há tempos, ai!,
amõ armada rekopûera îabé; || é um pouco como o antigo estado da armada[7];
sekó || sua condição
akûeîba’e rekó. || [é] a condição daquela.
Ixé aé || Eu mesmo
aîkugûá[8] tekó. || reconheço o fato.
Peteymẽ[9] peîeagûabo[10], || Guardem-se de se desonrarem,
pekûaẽmo[11] xe suí. || escapando-se de mim.
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- ↑ Opomoingó: pronome pessoal objetivo opo- + verbo moingó. Literalmente, ‘fazer-vos estar’. No original, opomoigó iebir katupe. A ortografia das cartas apresentava, com efeito, muitas incoerências e imprecisões. O pe final é um clítico que expressa deliberação, para homens e mulheres. Não está acompanhado por ká, como era comum nos textos do século XVI.
- ↑ Verbo ‘i / ‘e, com o sentido de ‘mostrar-se’, ‘estar’, ‘apresentar-se’; ‘achar-se’, ‘encontrar-se’.
- ↑ Forma variante de a’epe.
- ↑ Aqui, temos o verbo ikó / ekó (t) usado no modo indicativo circunstancial. A oração passiva em tupi antigo colonial era feita com o deverbal em -pyr(a) + posposição -ramo + verbo ikó. Literalmente, ‘como os que serão completamente arruinados, com efeito, eles estarão’.
- ↑ Mamõ monẽ i xóû xe suí oîegûasema. – Nesta frase, i xóû é o verbo só, ‘ir’, no modo indicativo circunstancial. Há notícias de potiguaras que se exilaram na Chapada de Ibiapaba, entre o Ceará e o Maranhão, lá criando um refúgio contra os europeus. Segundo Hulsman (2006, p. 52), “o jesuíta Antônio Vieira registrou em 1660 o choque dos jesuítas ao acharem uma comunidade ameríndia . . . . que possuía bíblias protestantes. Vieira culpou os brasilianos [i.e., os índios de língua tupi] de Pernambuco por transformarem Ibiapaba na ‘Genebra’ do Brasil, em outra alusão a Calvino”.
- ↑ Ver a nota 29.
- ↑ Felipe Camarão refere-se à armada luso-brasileira, que fora atacada traiçoeiramente pelos holandeses na Enseada de Tamandaré. Ele parece querer dizer que, apesar de mais poderosas, as forças brasileiras são prejudicadas pelas ações traiçoeiras dos holandeses.
- ↑ Ocorreu aqui a apócope do b do verbo kugûab, ‘conhecer’, ‘reconhecer’.
- ↑ Peteymẽ é alomorfe de peteumẽ: ‘guardem-se de’, ‘deixem de’, ‘parem de’.
- ↑ Peîeagûabo – gerúndio de îea’o – ‘desonrar-se’, com o morfema número-pessoal de 2ª pessoa do plural pe-.
- ↑ No original, pegoaemo, gerúndio de kûaẽ, alomorfe de kûabẽ, ‘escapar’, ‘livrar-se’, com o morfema número-pessoal de 2ª pessoa do plural pe-.